Base do sucesso não foi construída agora
Os sucessos recentes cativaram a atenção dos adeptos de futebol mais casuais, no entanto, este momento tem sido criado ao longo das últimas décadas. Apesar da profissionalização no futebol feminino ainda ser uma barreira difícil de ultrapassar, a verdade é que as estruturas dos grandes clubes têm trabalho afincadamente nesse sentido.
A estreia de Portugal nas competições internacionais foi em 1983, quando disputaram a qualificação para o Campeonato da Europa, contudo, a primeira participação numa fase final só chegaria em 2017 também num Europeu realizado nos Países Baixos.
Nesse período, sem qualquer fase final obtida, já era percetível o talento existente na seleção, sobretudo em nomes como Carla Couto e Edite Fernandes. Apesar da qualidade individual, a falta de competição interna fazia com que a seleção não conseguisse montar uma seleção consistente para o nível internacional, o que mudaria.
A aposta da FPF no futebol feminino
A Federação Portuguesa de Futebol compreendeu o potencial existente no futebol feminino na viragem de milénio, estabelecendo prioridades relativamente aos escalões de formação em que estas competissem de forma mais consistente. Este pequeno fator seria crucial no crescimento e evolução até à seleção principal.
A integração de todas as seleções em centros de alto rendimento como acontece no masculino, a profissionalização dos elementos técnicos na seleção e em alguns clubes, mas também o maior investimento financeiro, foram essenciais neste processo.
Com uma seleção A que começou a demonstrar qualidade para competir ao mais alto nível, o talento individual também começou a partir para voos mais altos. Ana Borges é assim uma jogadora importante e a ser referida, tal como o médio Cláudia Neto.
O impacto das conquistas da seleção nacional
A evolução do futebol feminino ainda não se traduz em títulos, mas, na realidade, quantas seleções femininas podem dizer que no seu palmarés conta com o lugar mais alto pódio numa competição internacional?
Nem sempre a ascensão é feita de momentos bonitos, mas sim de vitórias históricas que, em determinada altura, são uma nova página num livro que está por ser escrito. Portugal conseguiu a qualificação para o Euro 2017, e, passados somente seis anos, a entrada também na fase final de um Mundial, em 2023.
Portugal viria aqui a conseguir a primeira vitória de sempre nesta competição frente ao Vietname, sendo que nas restantes partidas foram extremamente consistentes, quase causando uma surpresa na fase de grupos.
Jogadoras em destaque nas melhores competições do mundo
Tal como acontece em outros desportos, seguir os melhores exemplos possíveis para o desenvolvimento dos clubes e competições será sempre essencial. Assim sendo, países como a França, Espanha e Países Baixos, são apenas alguns de onde podem ser retirados bons conceitos para desenvolver no futuro.
Curiosamente, apenas dois desses países contam com títulos internacionais de seleções, com a Espanha no Mundial 2023 e Países Baixos no Euro 2017. A seleção francesa ainda procura o seu primeiro título, no entanto, é o país que conta com os clubes com mais títulos europeus na Liga dos Campeões, o que demonstra a tenacidade do campeonato francês.
O crescimento globalmente é inegável, sobretudo com a introdução das apostas desportivas que vieram trazer um acréscimo ao interesse de um diferente público, mas também do investimento realizado pelas empresas dessa indústria nos clubes.
Estes são países que, em termos gerais, escolheram desenvolver o seu futebol através das suas competições internas, dando condições às equipas para se profissionalizarem e elevando a aposta no feminino, que muitas vezes parece descurada.
França, Espanha e Países Baixos como exemplos a seguir
A mescla de experiência e espírito de sacrifício com o talento emergente é uma combinação muito difícil de encontrar, sobretudo no futebol feminino, onde a poll de talento é relativamente mais reduzida devido ao número de praticantes. No entanto, Portugal está numa era em que está a conseguir essa simbiose.
Kika Nazareth, uma jogadora que atua no meio-campo é, atualmente, uma das jogadoras mais preponderantes no Barcelona, considerado por alguns uma dos crónicos favoritos a todos os títulos.
Outro dos nomes a realçar é, sem dúvida alguma, Jéssica Silva, que após ter se destacado ao serviço de Benfica e Sporting, teve uma excursão por dois dos melhores campeonatos do mundo. Representando o Lyon e Levante, a atacante continuou a demonstrar o seu talento, dando-lhe uma excelente oportunidade de representar o Gotham FC, nos EUA.
Ainda a atuar fora do país existe mais algumas jogadoras que passeiam o seu talento em Espanha, sobretudo jogadoras como Tatiana Pinto e Andreia Jacinto, a primeira a representar o Levante e a última como jovem talento da Real Sociedad.
Futuro com brilhantismo à vista de todos
Agora, com um projeto sólido e com o talento cada vez mais presente nas equipas portuguesas e na competição interna, o futebol feminino nacional necessita de voos mais altos.
Estamos numa era onde o interesse no desporto feminino está no pico e, tal efeito, tem de ser sentido também no apoio dado para o desenvolvimento sustentado. O futebol é uma das maiores raízes culturais em Portugal e as mulheres fazem parte disso.
Competir com as melhores seleções do mundo nem sempre será tarefa fácil, mas se o investimento continuar a ser feito, a disparidade existente começará a ser reduzida com o passar do tempo.
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